terça-feira, 27 de junho de 2017

A mulher e a filosofia

traços de uma filosofia no feminino.
A fenomenologia do ser humano: traços de uma filosofia no feminino.

Em um longo período, na história, a mulher enfrentou vários desafios para que pudesse conquistar o seu espaço. Após várias lutas conquistou e continua conquistando, não só no mundo do trabalho, mas, também, no universo intelectual, de modo especial, na filosofia. Várias pensadoras, como Edith Stein, não puderam obter uma cátedra por serem mulheres. No entanto, isso não foi empecilho para que, na época, ela pudesse dar suas contribuições à filosofia. Inicialmente, em sua tese doutoral “Sobre o Problema da Empatia”, que obteve da banca summa cum laude (o máximo louvor possível), surpreendendo o seu professor e orientador, Edmund Husserl. Ela se tornou sua assistente, transcrevendo seus escritos estenografados. Mais tarde abandonará essa ocupação, por desejar dar seguimento às suas próprias pesquisas. Ela continuou dando suas contribuições à fenomenologia, indo, inclusive, além, unindo a fenomenologia com o pensamento cristão (Tomás de Aquino); realizou pesquisas sobre o ser humano e sua alma. Suas investigações oferecem contribuições importantes à psicologia, pedagogia e outras ciências.  Em “A Fenomenologia do Ser Humano”, Angela Ales Bello apresenta o tema da mulher dentro do universo fenomenológico, tendo como foco o pensamento das integrantes: Edith Stein, Hedwig Conrad-Martius e outra pensadora pouco conhecida, Gerda Walther. Com olhar fenomenológico, a autora expõe as grandes contribuições das referidas pensadoras, demonstrando que a fenomenologia foi genial para o modo peculiar de ser da mulher. Em uma época em que ainda havia pouco espaço para elas nas universidades, elas ainda encontraram na escola fenomenológica o lugar onde expor suas pesquisas. Tiveram mestres e colegas que se dispuseram a apreciar suas qualidades, considerando-as no mesmo nível, apreciando suas pesquisas e a habilidade com que souberam desenvolvê-las. Com criticidade, sensibilidade e olhar sobre o todo, elas mostraram que é possível avançar no campo da mística, do sobrenatural, com olhar rigoroso; contribuíram com as ciências, especialmente a psicologia, já que, na época, a psique ainda era pouco esclarecida e com viés positivista. 

Uma filósofa não pertencente à fenomenologia, chama-nos a atenção com as suas reflexões: Hannah Arendt. Ela analisa os regimes totalitários; faz- nos refletir sobre política e temas antropológicos. Seu relato sobre Eichmann em Jerusalém foi considerado, pela crítica, perturbador, pois, sendo ela judia, investiga com serenidade e imparcialidade o caso do ex-oficial nazista, Eichmann, vendo nele apenas um ser humano frágil e medíocre, uma nulidade pronta a obedecer a qualquer voz imperativa, em outras palavras, um homem sem opinião própria. Diante de tais personalidades, Edith Stein, Conrad-Martius, Gerda Walther e Hannah Arendt, podemos encarar o ingresso da mulher na filosofia com serenidade e com abertura, observando várias conquistas e contribuições em um terreno que, antes, era exclusivo aos homens. Graças a elas temos, hoje, várias pesquisas sobre temas importantes que muitas vezes passam despercebidos e que não são menos importantes. Hoje, muitas outras mulheres continuam contribuindo; com crítica e com as suas peculiaridades, elas vêm conquistando, cada vez mais, o seu espaço na filosofia. 

Gabriel Mauro da Silva Rosa

Referências:

ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 335 p. 


BELLO, Angela Ales. A fenomenologia do ser humano: traços de uma filosofia no feminino. Tradução de Antonio Angonese. Bauru, SP: Edusc, 2000. 287 p.
 


Hedwig Conrad-Martius e os integrante da escola fenomenológica: Reinach, Neumann, Lipps, Max Scheler, Koyré, Arenque, MS e Márcio.
Edith Stein

Hannah Arendt

Nenhum comentário:

Postar um comentário