quarta-feira, 28 de junho de 2017

A consciência e a Potência - Deus.


G. Van der Leeuw (1928).
A principal característica da fenomenologia é a abertura para o fenômeno. Tudo aquilo que se manifesta é um fenômeno - a pessoa humana, a história, a cultura, a arte etc. Uma das pesquisas mais originais no campo da fenomenologia são desenvolvidas em torno do ser humano e da religião. Gerard Van der Leeuw se apropria do método husserliano e analisa a consciência do homem religioso. De acordo com o filósofo, todo ser humano busca a potência ou o poder transferindo para o âmbito humano ou divino. Todos buscam algo que preencha o seu próprio ser: alguns do status que emana de sua profissão, outros na política, no dinheiro etc. No campo religioso, Leeuw afirma que o "homo religiosus gostaria de entender a vida para dominá-la e por isso procura sempre novos poderes superiores, porém toma consciência que jamais poderá superar a fronteira e que jamais poderá alcançar o poder supremo, mas é este que o alcança, de uma forma incompreensível e misteriosa" (BELLO, 1998, p. 109). Mesmo aquele que se diz ateu busca o poder, porém transferindo sua busca para sua própria humanidade, restando-lhe sempre a insuficiência. Torna sua própria insatisfação um absoluto, sem ser capaz de responder às perguntas: "por que procurar aquilo que satisfaz plenamente? de onde tira o ser humano a ideia de poder ser perfeito e poderoso e a consciência de não pode-lo ser? De onde vem a consciência?" (BELLO, 1998, p. 168). Todo homem, consciente ou inconscientemente, busca a Potência. Para a consciência religiosa, o verdadeiro poder é Deus e somente ele pode preencher nosso ser. Por meio da fé somos capazes de alcança-lo. No entanto, como demonstrou Stein em Ciência da Cruz, seremos colocados em um caminho tenebroso e imerso na noite, porém seguro - o caminho da fé. "É um caminho porque conduz à união com Deus; é envolvido em noite escura porque, comparado ao entendimento claro da razão natural, é obscuro. A fé nos leva a conhecer algo que não chegamos a ver bem claramente. O objetivo final do caminho é uma noite: nesta terra, mesmo ao atingir a união bem-aventurada, Deus permanece escondido de nós. O olhar de nosso espírito não é adaptado para sua excessiva luminosidade e enxerga como na escuridão noturna" (STEIN, 2002, p. 46). 

Escrito por: Gabriel Mauro da Silva Rosa.

Referências: 

BELLO, Angela Ales. Culturas e religiões: uma leitura fenomenológica. Tradução de Antonio Angonese. 2º ed. Bauru, SP: Edusc. 1998

STEIN, E. Ciência da Cruz: Estudo sobre São João da Cruz. Tradução de D. Beda Kruse. 3º ed. São Paulo: Loyola, 2002. 262 p. 

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