domingo, 19 de janeiro de 2020

Santa Teresinha e Santa Teresa Benedita da Cruz: duas almas irmãs.



Santa Teresa de Lisieux, também conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus, nasceu na França, Alençon, no dia 02 de janeiro de 1873. Edith Stein, canonizada como Santa Teresa Benedita da Cruz, nasceu na Breslávia (atual Wroclaw, Polônia),  no dia 12 de outubro de 1891. Ambas nasceram em lugares e períodos diferentes, contudo, possuem em comum não só o fato de terem pertencido à mesma ordem religiosa (o Carmelo), mas vários outros pontos concordantes, que apresentaremos. Edith Stein pertencia a uma família judia, perdendo o pai muito cedo. Com isso, sua mãe, Auguste Stein, assume a educação de seus sete filhos. Seu falecido marido, Siegfried, possuía um comércio de madeira, entretanto, o negócio não ia bem. A Sra. Auguste assume o negócio, restituindo a economia da família, o que possibilitou aos filhos, principalmente à Edith, seu ingresso nas melhores escolas e universidades. Para a Sra. Stein, a educação dos filhos era primordial.
Ao contrário de Santa Teresa Benedita, Santa Teresinha perde a mãe. Seu pai, Sr. Luís Martin, famoso relojoeiro, assume a educação de suas cinco filhas, provendo-lhes o melhor. Com a finalidade de educá-las da melhor maneira possível, em um ambiente saudável, compra uma casa em “Les Buissonnets”, que chama a atenção por sua beleza (assim como a residência de Edith Stein, em Wroclaw, Polônia). Os pais de Santa Teresinha, Sr. Luís e Sra. Zélia, eram cristãos muito piedosos, assim como a Sra. Auguste, que possuía profundo zelo pelo judaísmo. Ambos possuíam profundo respeito pelos filhos, tanto na escolha de uma profissão quanto nos costumes religiosos. O Sr. Luís respeitou o desejo de suas cinco únicas filhas quando manifestaram o desejo de abraçar a vida religiosa.
A Sra. Stein nunca impôs aos filhos a religião judaica, respeitando a liberdade dos filhos até mesmo quando muitos deixaram de rezar (Edith, por exemplo, relatou que viveu um período de ateísmo, aos 14 anos). Escreve Edith, em sua autobiografia, que ninguém opinou na escolha de sua profissão. Sua mãe lhe dava liberdade total. Ela dizia: “Não cabe a ninguém o direito de opinar sobre o assunto. Não é da nossa conta. Faça o que você achar que é certo” (STEIN, 2018, p. 210). Assim, ela pôde seguir o seu caminho profissional e intelectual sem ser incomodada. Até aqui, temos alguns pontos em comum entre estas duas almas, Edith e Teresa: pais profundamente zelosos, que possuíam profundo respeito pelos filhos, em outras palavras, a consciência de sua responsabilidade e missão como verdadeiros educadores terrenos.
Edith e Teresa escreveram uma autobiografia, que, mesmo possuindo finalidades diferentes, complementam-se. Em “História de uma alma”, Santa Teresinha narra a sua infância por obediência aos superiores, para, como ela mesma diz “cantar as maravilhas do Senhor”. O livro chama a atenção até hoje (2020) por sua simplicidade, delicadeza. Para agradar ao Senhor, diz a santa, não são necessários grandes feitos, mas nos pequenos gestos podemos dar prazer a Jesus. “Um sorriso, uma palavra amável, muitas vezes bastam para alegrar uma alma triste”. Deixou-nos o seu legado, o pequeno caminho, a infância espiritual.
Em “Vida de uma família judia” (versão portuguesa, publicada pela Editora Paulus) Santa Teresa Benedita narra a sua trajetória existencial com a finalidade de dar o seu testemunho como judia (já que o movimento nazista empregou o ódio contra os judeus, construindo uma falsa caricatura): “O que escrevo nestas páginas não tem a pretensão de ser uma apologia ao judaísmo. [...] É um testemunho, entre tantos outros já publicados ou ainda virão a sê-lo. Trata-se de fornecer informações àqueles que desejam ir às fontes com imparcialidade” (STEIN, 2018, p. 21). Hoje, a sua autobiografia nos permite conhecer não só a sua personalidade, como, também, a de vários outros judeus; aqueles com os quais ela conviveu: integrantes de sua família, colegas de estudo e amigos.  

 [...] Muitas outras pessoas não conviveram com judeus, principalmente a juventude, pois, em nossos dias, ela está possuída pelo ódio racial desde a mais tenra infância. É para essa juventude e exatamente para ela que devemos dar testemunho, nós, que crescemos no judaísmo (STEIN, 2018, p. 21).

Edith, além de sua autobiografia, deixou-nos numerosos escritos – filosóficos, teológicos, pedagógicos e espirituais, além de muitas cartas. Em comum, as duas almas irmãs – Teresa e Edith – também escreveram poemas e peças de teatro, além do que já fora mencionado. E não foi por acaso que se tornaram carmelitas. Foi obra da graça. O Carmelo, Escola de Maria, inspirado pelo profeta Elias, é uma escola de vida e de oração, de arte e de santidade. A Ordem da Bem Aventurada Virgem do Monte Carmelo reúne uma grande riqueza cultural e personal. 
Teresinha e Edith são duas almas que se complementam, pois nos ensinam a amar a Jesus, a ter perseverança, a ter amor ao próximo e a agir (vida conforme a doutrina). Nosso Senhor disse que seu caminho não seria fácil: “Aquele que desejar seguir-me, tome a sua cruz e me siga”.   Teresinha morreu aos 24 anos, vítima de tuberculose e Edith, aos 51 anos, na câmara de gás, pelo sistema nazista. Em comum, estas almas deram o seu testemunho, perseveraram no caminho a Jesus Cristo e nos convida, hoje, a tomar a nossa cruz e a segui-lo. Agradeçamos a Deus pela vida de Santa Teresinha e de Santa Teresa Benedita da Cruz, duas almas irmãs, NOSSAS IRMÃS, pelo exemplo de vida e de santidade, legado para nós, em nossa jornada terrena.

Autoria: Gabriel Mauro da Silva Rosa. 19 de janeiro de 2020.

Referência:

STEIN, Edith. Vida de uma família judia e outros escritos autobiográficos. São Paulo: Paulus. 2018. 1 º ed. 599 p.

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